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quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

A Quinta

No Sábado de manhã acordei cedo, queria chegar à Quinta um pouco antes da hora do almocinho (um velho truque da escola dos colas). A tutora tinha combinado comigo que iríamos juntos, pois assim seria mais confortável para mim. Ainda nem tinha aberto a pestana como deve ser e já ela me dizia: eu escrevo-te um plano de viagem e vais sozinho, não terás dificuldade em lá chegar, e eles já sabem que estás a caminho é só chegares e está feito. Pensei logo: ai que puuuuuta.
Abro aqui este parágrafo para vos esclarecer um pouco. Conheci a tutora em Junho num seminário, aquilo durou 5 dias e lá para o final rolou aí um clima. Ela ficou mais 1 dia, levei-a a Sintra (sabes bem, malandro...), e lá se foi ela. Sou um gajo bem disposto por natureza, tudo por uma boa gargalhada, gosto de rir e fazer rir os outros, assim uma espécie de dinamizador da judiaria, e nestes encontros cheios de malta desconhecida e, até agora, uns porreiros, excedo-me. É diferente receber e ser recebido, e ela talvez pensasse que eu, ao chegar a Praga, fosse capaz das maiores atrocidades, desde engolir espadas a partir tocos de madeira com as nádegas, e seria a puta da loucura. Não foi isso que aconteceu, não cheguei bem com aquela vontade de rir, ou de fazer rir, talvez ela tenha ficado desiludida, o que é certo é que foi estranho para ambos. Se vos conto isto, é porque gosto de vocês.
Merda para a tutora, vivam as quecas a recibo verde.


Chegar à Gare Central não foi nada complicado, nem paguei metro nem nada (Tuga que se preze burla tudo por onde passa, é uma coisa “patriótica”), comprar o bilhete dizendo o nome, que mais pareceu que estava a puxar uma escarra verdinha, também näo.
Depois de comprar o bilhete, constatei que tinha dez minutos para comer algo e apanhar o comboio que, embora soubesse que partia da linha 2, teria alguma dificuldade em encontrar. Entrei numa espécie de mini-mercado para o viajante com fome, e agarrei na primeira sandes que me pareceu boa e de seguida fui buscar um iogurte liquido (escrevo de seguida mas ainda anhei* ali que nem um campeão).
Dirigi-me à plataforma, tendo que perguntar a um grupo de miúdos, e a uma revisora de aspecto... opulento, se estaria no comboio certo. Estava.
A viagem foi agradável, era um daqueles comboios que todos já vimos na televisão, com compartimentos, alguns deles com camas e outros com sofás. São diferentes daqueles a que estou habituado, até porque não estão pintados a spray por fora. Procurei um compartimento vazio, só notando praí ao vigésimo nono compartimento que talvez tivesse que compartilhar um compartimento com alguém (o Queiroz d’Os Maias é que gostava muito de aliterações...), e assim que vi um mais vazio entrei. Lá dentro estava, para além de dois Checos sem motivo de interesse, uma daquelas loiras com cara de quem está a chupar um limão à meia hora. As paisagens que se viam do comboio eram todas algo semelhantes, lindas e recheadas de árvores, reparei até que havia pessoas a fazer uma caminhada, e digo-vos que seria uma longa caminhada, pois, que eu visse, não havia casas por perto. Reparei que a senhora de cabelo oxigenado estava a ler uma série de frases e palavras Inglesas, todas elas traduzidas para Checo. Decidi puxar do meu livrinho de frases e palavras Checas, todas elas traduzidas para Inglês, sugerindo à senhora que deveríamos trocar línguas. Como nada se sucedeu, fui dormitando, sempre receoso de adormecer à séria, porque poderia ir parar à Eslováquia (hmmmm...). Registe-se que a linha pela qual o comboio viajava é Internacional, havia comboios até Hamburgo e tudo. Sensacional...
Cheguei e, sem espanto nenhum (gajas...), não estava ninguém na gare. A tutora tinha-me dado um papel com uns números de telefone, um deles pertencia a Petr Külicek, que eu sabia ser o “gerente” da Quinta. Depois de uma conversa algo confusa ao telefone, esperei 20 minutos (embora fosse capaz de jurar a pés juntos que tinha sido uma hora). Lá apareceu o Petr, um jovem na casa dos 30, com um ar... de gajo da quinta, mas muito acessível e comunicativo. No carro começou logo com piadas pessoais do género: ah, sabes gosto muito de levar no rabo porque cá faz frio. É um doido... deixando-me de coisas, é um tipo impecável, em breve porei aqui uma foto dele só para a galhofa.
Fomos ao supermercado local, onde ele me disse que devia fazer compras para o jantar e para o dia inteiro de amanhã, pois iría almoçar em casa dele (vêm?). Completamente à toa, acedi ao que ele disse e de pronto fui buscar itens para comer uns belos píteus, ou näo fosse eu um cozinheiro de metade de uma mäo cheia. Os iogurtes que se comem por aqui säo feitos na cidade onde se compram, é um motivo de orgulho local, e eu concordo pois os sacainas dos iogurtes são mesmo bons. Fomos para casa ao som de Mozart, aquele gajo que pertencia a um Wolfgang de Amadeus, porque se comemora (celebra? o quê, se o gajo tá morto?) o aniversário da sua morte, e como o rapaz teve a audácia de passar por aqui, as rádios dedicam-se muito à sua música. A viagem foi curta e rapidamente chegámos a casa dele, onde nos esperava a sua mulher, Sarka (não vou entrar por aí, há que ter respeito e... não), e uma sopa que nunca tinha sido comida. A sopa consistia, se é que percebi bem, em: levedura de pão, cogumelos, batata e... pão. Tirarei isto a limpo mais tarde, pois a sopa, além de vegetariana (não é o meu caso mas dá sempre jeito para engatar gajas, estas receitas) era muito boa. Ía mesmo bem com um bom pedaço de päo.
Finalmente ia conhecer o meu destino durante um ano, o meu albergue, a minha casa, o meu lar, o meu tecto, a minhaszzzzzzz... Desculpem, adormeci. Se à nora estava, mais à nora fiquei, porque o Petr mostrou-me como funcionava o aquecimento central, o aquecimento do meu quarto, onde eram e o que eram as divisões e despediu-se com um adeus e até amanhã.
Quê? Como? Desculpa? Hãããããã?????? Então mas vou ficar sozinho na casa até
amanhã à noite? Mas...
Calma, também não era motivo para meter os dedos no rego e esfregar com eles a bola de cotão que sempre encontro para me acalmar quando estou nervoso. Estava sozinho? Sim, mas tinha comida, internet e Birls... Pfff, tranquilíssimo.
Depois de encher o forno do aquecimento central com madeira até näo dar mais, fui conhecer os cantos à casa (vai haver fotos, tive um pequeno problema) e ambientei-me. Comer, Internet e pimba, Birls e Net de novo. Não consegui encontrar o msn, nem carregá-lo para baixo, e por isso decidi ir ver os meus mails e enviar uns do género: já cheguei estou bem, e para além da tutora não, ainda não representei a malta dos Casais.
Comecei a responder ao mail de uma querida amiga minha, quando a net foi com o cacete (estar sempre a escrever caralho já parece mal). E näo mais entrei no meu mail nessa noite. De repente ocorreu-me que talvez algum cabräo d’algum puto com uns programas a mais no computador me tivesse desviado a password , para ficar com os contactos das minhas lindas amigas. E era muito mau se assim fosse porque iria de ficar sem todos os meus contactos de Portugal, e ainda agoniei que nem um porco na matança, enquanto o computador me respondia: password inválida e eu respondia: se apanho o filha da puta corto-lhe quatro ou dez deditos.
Rapidamente fiquei exaltado e nem com um Birls me acalmei, por isso fiz outro só para ver como era. Sentei-me na sala a olhar para o vazio, enquanto me queixava de ter demorado 20 minutos a fazer a mala, pois só tinha trazido daqueles álbuns que vêm com uma lâmina para cortar os pulsos. Digamos que não era a música que mais me apetecia. Fui salvo por um cd dos Placebo, homónimo, que sempre deu para me distrair, também pela decisão de escrever este “diário” que é, e será sempre, além de um método de escape à depressão (isso e os Birls), uma maneira de, quem quiser, ficar a saber, mais ou menos... o que ando a fazer.
Escrevi até mais não (foi mesmo assim, eu a escrever e a pensar: mais não, mais não), e fui nanar...

1 comentário:

Lampimampi disse...

sopinha vegetariana é que é! ;)